Conhecida simplesmente como moto, a motocicleta é um veículo de duas rodas equipado com um motor que propicia sua movimentação. Sua crescente utilização nos dias de agora pode ser explicada não só pelo baixo consumo do combustível de que necessita, mas também pelo seu preço relativamente acessível e pela diversidade de categorias e cilindradas que oferece, cada uma delas com seu próprio estilo e aplicação. A história da motocicleta teve inicio na segunda metade do século 19, e se confunde com o desenvolvimento da bicicleta porque a idéia de motorizá-la surgiu logo após o surgimento dos primeiros biciclos.
Foi durante o ano de 1867 que o americano Sylvester Howard Roper (1823-1896) mostrou aos amigos sua invenção, um pequeno velocípede de duas rodas equipado com motor de 2 cilindros (ilustração acima), movido a vapor (carvão). Mas ao experimentá-lo diante do público que comparecera ao local da demonstração, o inventor constatou que o motor utilizado não funcionava corretamente naquele veículo de dimensões reduzidas, e por isso abandonou o projeto. Simultaneamente, do outro lado do Atlântico o francês Louis Perreaux não tinha conhecimento do que fazia seu colega americano, mas também trabalhava no desenvolvimento de idéia semelhante. Ambos certamente se inspiravam no fato de que nessa época os navios e locomotivas movidas a vapor já eram comuns tanto na Europa como nos Estados Unidos, e na França e Inglaterra os ônibus a vapor já estavam circulando normalmente.
O velocípede Michaux-Perreaux
Apesar do fracasso de Rooper e Perreaux, o alemão Gottlieb Daimler (1834-1900) decidiu prosseguir com as experiências que os dois faziam. Tendo se afastado em 1883 da fábrica de motores onde trabalhava, por divergir do patrão Nikolaus August Otto, ele improvisou uma oficina no quintal de sua casa em Cannstatt, Alemanha, para desenvolver o seu próprio motor de combustão interna. Foi nesse local que Daimler e um ex-colega chamado Wylhelm Maybach, montaram um motor considerado evoluído para a época - conhecido como carrilhão -, que tinha 264 centímetros cúbicos, meio cavalo de força e 500 rotações por minuto.
Meses depois os dois sócios acabaram inventando um motor de quatro tempos com cilindro horizontal e funcionamento a gás ou gasolina, e o adaptaram a uma bicicleta feita quase toda de madeira, que trazia na parte traseira duas rodinhas extras, para ajudar o piloto a se manter equilibrado em cima do veículo. Esse motor, refrigerado a ar, era posicionado verticalmente no centro da máquina, e a transmissão de sua força à roda traseira feita através de uma correia. Patenteado com o nome de Einspur, o motor desse modelo desenvolvia 600 rotações por minuto e 0,5 cavalo de força, e ao ser testado fez o veículo no qual fora adaptado percorrer cerca de três quilômetros a uma velocidade média de seis quilômetros horários. No ano seguinte ele foi melhorado por seus criadores, passando a ter refrigeração a ar e um sistema de ignição acionado através de pequeno tubo mantido incandescente por bico de gás de gasolina.
moto Daimler (as duas imagens)
No dia 10 de novembro do mesmo ano um dos filhos de Daimler, de nome Paul, percorreu 9,5 km, de Cannstat até Unterturkhein, num percurso de ida e volta, tornando-se assim o primeiro motociclista do mundo. Entretanto, a participação de Gottlieb Daimler no desenvolvimento da motocicleta não foi além desse ponto, porque posteriormente ele se associou a outro alemão, Karl Benz (1844-1929), para que juntos os dois pudessem fundar a fábrica que receberia o nome de Mercedes. Com respeito à motocicleta criada por Daimler, as coisas não morreram por aí, pois apesar dela ter permanecido como protótipo durante alguns anos, em 1894 os industriais Heinrich Hildebrand e Alois Wolfmüller, donos de uma fábrica de motores estabelecida em Munique, Alemanha, conseguiram elevar a potência do veículo a dois cavalos, e passaram a chamá-lo de Motor road – Roda Motorizada.
Eles também decidiram patentear um modelo comercial desse veículo de duas rodas que derivava da bicicleta, mas com tantas modificações em relação ao projeto inicial que esse trabalho resultou no surgimento de um tipo de veículo mais pesado, com vibrações mais acentuadas, maior velocidade e rigidez e, de um modo geral, maior solidez das peças. No prospecto de apresentação desse primeiro motociclo fabricado em série, os inventores anunciavam, orgulhosos: "Em testes especiais, é possível elevar a velocidade a uns 60 km por hora. Mas quem ousaria andar a tal velocidade?" E de fato, inicialmente foram poucos os compradores do Motor road. A partir daí começaram a surgir, embora ainda timidamente, as primeiras fábricas de motocicletas: assim foi que em 1865 instalou-se a alemã Stern; em 1896, a francesa Bougery e a inglesa Excelsior .No ano seguinte, em 1897, os irmãos Eugene e Michel Werner criaram o primeiro motociclo fora do território alemão - a motocyclette, um modelo com dois cavalos de potência, que inspirou todas as outras motocicletas que vieram depois.
O sucesso imediato despertou o interesse de engenheiros e inventores, fazendo nascer em 1897 a marca italiana Bianchi. Nesse mesmo ano, na Inglaterra, Edward Butler construiu um triciclo com ignição elétrica, equipado com carburador cuja alimentação provinha de depósito a ele anexado. Em 1902 o francês Georges Gauthier bolou a lambreta, um veículo que apesar de oferecer menor estabilidade, tinha a vantagem de ser mais leve e sobretudo mais econômico. Pouco adiante, em 1910, surgiu no mercado o side-car, um tipo de motocicleta que trazia atrelado em seu lado direito um carrinho para o transporte de passageiros, e que foi muito usado pelas tropas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Durante as duas primeiras décadas do século 20 as experiências para adaptação de um motor a vapor em veículos leves foram se sucedendo, e mesmo com o advento do motor a gasolina (combustão interna), elas continuaram sendo feitas até 1920, quando então foram abandonadas definitivamente.
Daí em diante a indústria do ramo passou a apresentar regularmente modelos cada vez mais sofisticados, conquistando a simpatia e preferência de um público numeroso que inclui atualmente homens e mulheres em todos os países, e de quase todas as faixas de idade. No início do século 20 a Europa possuía cerca de 43 fábricas de motocicletas, mas o interesse despertado pelo tipo de veículo que elas produziam era tão grande que em 1910 o seu número chegou a 394 em todo o mundo, das quais 208 encontravam-se instaladas na Inglaterra. Entretanto, a maioria delas se viu forçada a paralisar suas atividades em virtude da acirrada concorrência que dominava esse segmento de mercado. Nos Estados Unidos, as primeiras dessas indústrias - a Columbia, a Orient e a Minneapolis - surgiram em 1900, mas dez anos depois esse número subiu para vinte. Diante disso, os fabricantes do mundo inteiro se viram diante da necessidade de introduzir constantes inovações em seus produtos, cada um deles procurando atrair para a sua indústria o interesse da clientela potencial.
motocicleta Monark
A história da motocicleta no Brasil se inicia em 1910, quando muitas motos européias e algumas de fabricação americana foram importadas por empresas que se iniciavam nesse segmento de mercado, juntamente com veículos similares como side-cars e triciclos com motores. Poucos anos depois, no final daquela década, já existiam cerca de 19 marcas concorrentes rodando no país, entre elas as americanas Indian e Harley-Davidson, a belga FN de 4 cilindros, a inglesa Henderson e a alemã NSU. Essa grande diversidade de modelos de motos proporcionou o surgimento de diversos clubes e alguns tipos de provas e competições esportivas, como a do percurso entre as cidades do Rio de Janeiro a São Paulo, por exemplo, em uma época em que essas duas capitais não eram ligadas por nenhuma rodovia. No final da década de 30 começaram a chegar ao Brasil as máquinas japonesas, a primeira, da marca Asahi. Durante a segunda guerra mundial, as importações de motos foram suspensas, mas retornaram com força após o final do conflito, em 1945.
A primeira motocicleta fabricada no Brasil foi a Monark, ainda com motor inglês BSA de 125cm3, em 1951.. Depois a fábrica lançou três modelos maiores com propulsores CZ e Jawa, da Tchecoslováquia e um ciclomotor (Monareta) equipado com motor NSU alemão. Nessa mesma década apareceram em São Paulo as motonetas Lambreta, Saci e Moskito e no Rio de Janeiro começaram a fabricar a Iso, que vinha com um motor italiano de 150cm3, a Vespa e o Gulliver, um ciclomotor. O crescimento da indústria automobilística no Brasil, juntamente com a facilidade de compra dos carros, a partir da década de 60, praticamente paralisou a indústria de motocicletas. Somente na década de 70 o motociclismo ressurgiu com força, verificando-se a importação de motos japonesas (Honda, Yamaha, Suzuki) e italia-nas. Surgiram também as brasileiras FBM (que só subia embalada) e a AVL. No final dos anos 70, início dos anos 80, várias montadoras surgiram no país, como a Honda, Yamaha, Piaggio, Brumana, Motovi (nome usado pela Harley-Davidson na fábrica do Brasil), Alpina, etc. Nos anos 80 observou-se outra retração no mercado de motocicletas, quando várias montadoras fecharam as portas. Foi quando apareceu a maior motocicleta do mundo, na época, a Amazonas, que tinha motor Volkswagen de 1600cm3, da Brasília. Atualmente a Honda e a Yamaha dominam o mercado brasileiro, e são seguidas pela, Suzuki, Kasinski, Sundown , Daelin, Harley-Davidson.
FERNANDO KITZINGER DANNEMANN
Publicado no Recanto das Letras em 04/05/2007
Código do texto: T474262
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