A partir deste post teremos em determinados meses do ano algumas entrevistas com motociclistas que percorreram trechos inusitados e fantásticos!
A primeira entrevista do Motoviagens na Net é de um "quase" conterrâneo meu, o André Carrazzone e sua namorada Chris, que no final de 2010 concluíram uma viagem até o Ushuaia-ARG.
Vamos então a entrevista!!!
Olá André! Antes de tudo, nos conte um pouco sobre você.
Sou natural de São José Rio Preto/SP, tenho 39 anos e ando de moto desde os 12. Meu pai era motociclista também. Sou formado em Engenharia Mecânica e trabalho no ramo de confecções. Tenho uma confecção em São José do Rio Preto com 20 anos de história e há 2 anos fazemos também um produto para motociclistas, www.go100.com.br.
Sou separado e tenho 2 filhos. A Chris é minha namorada há 5 anos.
Quando o motociclismo começou a despertar o seu interesse?
Sempre estive rodeado de motos. Pai, primos, cunhado e quando tive a primeira oportunidade de andar, fui em frente e adorei. Entrou no sangue! Meu pai me deu minha primeira mobilete quando eu tinha 14 anos.
No início era só aquela febre. Andar pelas avenidas de São José do Rio Preto, depenar a moto, hehe! Depois comecei a me interessar por viagens, competições e pelo moto-turismo por fim.
Competi na modalidade Enduro por uns 8 anos e, depois em Rally de carro, onde conheci a Chris, que era navegadora do pai. Começamos a namorar há uns anos e descobrimos essa vontade em comum.
A sua primeira viagem de moto teve qual destino? Ela foi boa?
Olha só, não me lembro exatamente da primeira, já que sempre fui de sair da cidade, mas me lembro de uma que fiz, quando morava em Goiânia/GO, com uma GS500 que tinha na época. Foi bem pertinho, acho que uns 400km, somente bate e volta, só para ver como era. Foi excelente apesar da pouca experiência e falta de equipamentos, na época.
O Ushuaia-ARG era um sonho seu, em chegar lá de moto? Quanto tempo você sonhou com esta realização?
Ushuaia é uma viagem que penso ser uma meta para vários motociclistas. Tinha vontade de ir pra lá sim há algum tempo, mas nada muito forte.
Estávamos planejando uma outra viagem, mais “romântica” quando fizemos uma visita à um aventureiro numa feira em São Paulo, capital. O cidadão tinha tantos feitos, tantos kms percorridos, que decidimos de pronto, eu e a Chris pela viagem mais “punk” possível para nós naquele momento. E assim surgiu a ideia de Ushuaia.
Bom, nós sabemos que em uma viagem desta magnitude o planejamento deve ser minucioso. Ele tomou quanto tempo seu?
Posso afirmar que é a parte mais importante e a que mais gosto de fazer. Do mapeamento até a bagagem, eu adoro preparar tudo. O máximo possível, a maior previsão dos acontecimentos possíveis para que tudo corra bem.
No meu caso, com a Chris, como viajamos sozinhos, tenho que me preparar bastante no sentido de que nada possa ocorrer e eu não estar preparado.
Normalmente começo a planejar uma viagem desse porte com uns 6 meses de antecedência, e foi assim nesta. Sempre discutindo tudo, eu e ela, trocando o máximo de informações com os órgãos oficiais dos países que passaríamos, pegando informações com amigos que já haviam feito tal passeio, enfim, curto muito essa parte da viagem. Dizem que a viagem começa nessa fase e eu acredito e sou prova disso!
Nesta viagem você foi acompanhado pela sua valente companheira, a Chris. Gostaria de saber dela quando ela começou a se interessar pelo mundo das duas rodas.
Gosto de moto desde a adolescência, na época que meus amigos todos tinham, mas meus pais me proibiam de ter moto. Só “aconteceu” mesmo em 2007, quando ganhei do André um capacete de presente no Dia dos Namorados. Ele também me ajudou a escolher a primeira moto e as que vieram depois.
Conte-nos um pouco sobre você Chris.
Nasci em Campinas onde moro até hoje. Tenho 34 anos, me formei em Biologia e atualmente tenho uma empresa de equipamentos e acessórios para ginástica, a Cepall www.cepall.com.br.
Vocês se conheceram graças a este hobby?
Nos conhecemos graças à outro hobby, o Rally de carro. A Chris navegava para o pai e nós competíamos na mesma categoria.
Chris, quem teve a idéia de realizar esta façanha em motos separadas, dois em duas?
A idéia surgiu naturalmente, pois já andamos em duas motos há 4 anos.
Você ficou apreensiva no começo, por ir pilotando uma moto rumo a um destino tão longe?
Claro, em todas as viagens fico com aquele “frio na barriga”, mas fiquei mais apreensiva por estar numa moto que não estava acostumada do que a viagem em si. Nós costumamos planejar bastante, o que nos deixa mais tranqüilos.
Ficou preocupada com o problema na relação de sua moto?
A relação teve um desgaste acima do esperado, mas a possível troca estava no nosso planejamento. Tínhamos uma listagem de todas as concessionárias Honda no trajeto que faríamos.
Chris, você é uma das primeiras mulheres motociclistas a chegar ao “fim do mundo” pilotando. O que você diria as mulheres?
Fui uma das várias mulheres que já chegaram ao “fim do mundo” em sua própria moto. O que recomendo é planejamento, preparação física e psicológica e durante a viagem muita determinação, paciência e bom senso, lembrando que o objetivo é a diversão.
Qual foi a sensação ao chegarem em Ushuaia-ARG?
Eu diria melhor: a sensação de chegar à Tierra Del Fuego. A paisagem muda nesse ponto. Até então era somente estepes, poucos animais e vento absurdo. Depois da passagem pelo estreito de Magalhães, tudo muda. A sensação de planejamento cumprido é excepcional. De ter chegado aonde muita gente não chegou, passado por dificuldades juntos, medos, obstáculos... é muito legal!
E o que vocês falam sobre os nossos irmãos argentinos? Simpáticos? Tiveram algum tipo de problema com a polícia argentina?
Os Argentinos são um povo maravilhoso! Sempre muito atenciosos, hospitaleiros, sempre querendo ajudar, dar dicas, conversar, são pessoas ótimas.
Na província de Buenos Aires é um pouco mais difícil, acredito que seja até por existir muito turismo por lá. O pessoal é um pouco mais fechado, mais ríspido, mas no resto do país é maravilhoso. Tenho muito amigos por lá e a Chris tem família em Buenos Aires.
A imagem da Argentina aqui no Brasil, principalmente relacionada ao futebol é ruim, mas como não gosto de futebol, nem imagino o que conversar sobre o assunto, não passo aperto!!!
Os policiais são muito solícitos, atenciosos, dispostos à ajudar e respeitosos. Lógico que tem suas exceções como em todos os países, mas na maioria que encontramos foram ótimos.
A Polícia lá é dividida basicamente como a nossa, em federais, estaduais e municipais, vamos dizer assim. A polícia deles que equivaleria a nossa Federal é a Gendarmerie. Estes são nota 1000, muito respeito e atenção aos turistas, em todos os aspectos.
Pense assim: a Argentina vive uma situação econômica tão difícil e desequilibrada quanto o Brasil; imagine que eles não ganham um super salário, nem estão super felizes com o excesso de trabalho, então, temos também que entender a situação e ter um pensamento solidário antes de simplesmente falar mal de qualquer que seja a profissão.
Durante a viagem, vocês cruzaram com outros motociclistas que estavam em viagem semelhante?
Sim, sempre encontramos outros motociclistas. Nesta encontramos muitos brasileiros e gostamos de ver, durante o trajeto, os adesivos nos postos de gasolina, dos que já passaram por ali. Vê-se gente de todas as partes, conhecidos e anônimos, é sempre muito legal!
Encontramos em Trelew–ARG um grupo de 3 motos que saiu de Campinas no mesmo dia que a gente, rumo ao Ushuaia, e iriam encontrar as esposas em Rio Gallegos–ARG. Que baita coincidência. Encontramos também, lá em Ushuaia, um casal do Rio Grande do Sul e um motociclista de Botucatu/SP, o Gaspar.
Bom, quais foram os momentos mais difíceis que vocês enfrentaram nesta jornada?
Penso que o vento na Patagônia argentina seja unanimidade entre nós. É bem complicado andar com vento lateral forte o tempo todo, dias e dias seguidos, calculando as ultrapassagens, locais seguros para as paradas e tudo o mais.
E quais foram os melhores momentos?
Para mim, ver o Glaciar Perito Moreno, em El Calafate, foi uma experiência maravilhosa. Gosto de ver a natureza em suas maiores exposições. Foi lindo!
Sem dúvida, o Glaciar nos deixou de queixo caído. É muito impressionante. Gostei também de observar a vida marinha da região: elefantes marinhos, pingüins e as baleias franca-austral.
Esta é uma pergunta que muitos tem a curiosidade de saber: gasta-se muito dinheiro em uma viagem dessa magnitude?
Depende do planejamento e do que pretende no passeio. No nosso caso, estamos acostumados à andar o dia todo, usando por exemplo os hotéis somente como pouso mesmo. Se tiver piscina, sauna, jantar e etc., optaremos por outro pois não vamos usar esses serviços. Costumamos nos concentrar na estrada, nos passeios entre as cidades, lógico com algum conforto sempre. Mas posso lhe afirmar que gastamos bem pouco em nossas viagens.
André e Chris, quais dicas e conselhos vocês podem dar aos motociclistas que pretendem fazer esta viagem?
Planejamento, conhecimento do trajeto, preparação da moto, preparação física e psicológica do piloto, bom senso e humildade.
Gostamos de andar somente nós dois e traduzindo isso, acredito que grupos grandes não seja uma boa ideia para viagens desse porte. Recomendo fazê-la com gente muito conhecida, que saiba seus limites, que não precisa mostrar suas habilidades pra ninguém e que tenha os mesmo objetivos.
André, Chris, muito obrigado pela entrevista e mais uma vez parabéns por esta realização!
Você pode acompanhar como foi esta viagem no blog Dois em Duas!
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