O meio motoclubista e suas festas de motociclistas vêm sofrendo um
desgaste natural, que precede as mudanças naturais necessárias. Tudo
está em movimento, muda-se e ajeita-se ao sabor das situações políticas e
sociais etc. Os encontros de motos estão nessa fase e padecem de
repetição de programação, do comércio como fim e da perda de identidade e
do sentido do (jeito de ser) dos encontros tradicionais dos verdadeiros
motociclistas como uma irmandade solidária e ordeira.
O encontro de motociclista, com raras exceções, já não é uma festa
amadora, como antes, com o fim principal no prazer de uma boa prosa e de
trocas de informações e culturas entre motociclistas, que tinham como
estilo de vida viajar o Brasil (e até o mundo) sobre duas rodas. Os
encontros aconteciam meio improvisados numa praça ou numa área vazia, e o
som era mecânico, ao redor de onde todos se ajuntavam, proseavam sobre
cidades, estradas, moto e suas modificações.
Hoje, as evoluções normais dos encontros foram, em alguns casos,
radicais desvirtuando o sentido de integração das festas de motos. O
show de rock já não é mais pra curtir, tem potência para a cidade toda
saber da festa e quase não permite a velha e boa prosa de antes. Quase
todos já estão sentindo a falta dos verdadeiros motoclubistas, que estão
retornando ao tradicional motopasseio às cidades pequenas. Até o velho
aceno de mão ao se cruzarem está acabando.
motociclista esmerilhando sua SS em encontro
Os motociclistas de motos esportivas (não todos, evidentemente) também
têm feito estragos nessas festas, aproveitando o país sem ordem. Muitos
deles sentem prazer em fazer barulho ensurdecedor ao acelerar, até
estourar, o giro do motor e o pneu, no meio da multidão, com risco de
grave acidente. Numa festa ordeira desrespeitam a lei sem se incomodar
com as pessoas e, o pior, não são nem advertidos pelas autoridades.
Muitos motociclistas de motos esportivas, com sua falta de respeito e
de educação, estão criando rivalidade desnecessária no meio
motociclístico até resultando em algumas brigas. Perturbam a festa, que
não é só deles, e provocam, com o barulho ensurdecedor, os que querem
ouvir o show de rock ou conversar. Relatados nas redes sociais, esse
comportamento errado, ilegal, perigoso e abusivo, sem reposta da
polícia, já comprometeu alguns tradicionais eventos, que começam a
sentir o esvaziamento dos outros motociclistas.
A infantilidade e a tolice (de novos e de maduros pilotos) chega ao
absurdo e incrível ato de se acelerar, até o máximo, uma moto na porta
de hotel às 5h da manhã. Eu mesmo que vos escrevo padeci com isso num
evento nacional e concluí daí que o ser humano é o único bicho que tem o
livre arbítrio e o usa até pra ser bobo ao extremo.
Uma singela sugestão é a promoção de festa separada de motociclistas
esportivos com liberação para exibições, e o respeito desses nos eventos
tradicionais. A paz e a boa convivência é sempre a melhor opção. Assim,
não devemos discriminar e hostilizar ninguém por sua roupa ou moto
esportiva num encontro de motos. Devemos, sim, antes de brigar, exigir o
cumprimento da lei e abominar o radicalismo e as generalizações
perigosas.
Fonte: O Tempo
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